sexta-feira, 27 de abril de 2012

CONTO: Abraça-me Apenas!

Capitulo I


Apenas limitei-me a sentar-me ali contemplando a vista para a avenida, enquanto o vento perfurava o caminho de entre os meus cabelos até ao meu pescoço … Arrepiei-me e apertei o lenço no pescoço.

Ainda me lembrava daquele dia … em que sem mais nem menos ele desaparecera … em que dissera que eu seria feliz e que num piscar de olhos encontraria outro porque, agora, era sua maninha forte.


O vento voltou a soprar, arrancando, desta vez, o meu lenço. Levantei-me num salto correndo de seguida à sua trás. O vento cessou e com ele o lenço. Inclinei-me para apanhá-lo contudo de novo foi arrastado pelo vento veloz. Corri novamente atrás dele. O vento abrandara e no mesmo instante que um grupo de rapazes altos, morenos e atléticos passaram por mim. Um deles disse aos outros: “Vou só ao WC num instante!”, os outros miúdos limitaram-se a rir pela expressão WC.

O meu lenço estava a três passos de mim e ao mesmo tempo tão perto dele. O rapaz apatanhou o lenço e eu estremeci. Olhou para baixo e viu o lenço, dobrou-se e apanhou-o. Olhou em volta, cruzando o olhar com o meu. Esbocei um sorriso e fui na sua direção olhando para o lenço nas mãos do rapaz. “Oh!” Exclamou estupefacto. “Aqui tens”. Sorriu. “Obrigada!” Tirei o lenço das suas mãos e amarrei-o à alça da minha mala.
Respirei fundo e voltei a olhar para o rapaz, ele sorriu. “James” estendeu-me a mão bronzeada e suave. “Lucile”, apertei-lhe a mão. “Prazer”, voltou a colocar a mão no bolso das calças. “Peço desculpa por ter atropelado o lenço” apontou para a minha mala com a cara triste. “Ah! Não faz mal…” Sorri. “Bom…hum, talvez tenhas pressa ou assim… não te vou incomodar” ofereceu uma expressão simpática. “Hum… não nem por isso” Sorri. “Então… poderia recompensar-te por ter atropelado o lenço?” “Sim” aceitei prestes a rir.





Capitulo II
 
Estava no café com James. Loiro (de caracóis muito suaves), alto, magro mas com algum músculo, simpático e engraçado. Assim era ele. Durante aquelas (poucas) horas ele fizera-me esquecer da existência de… bom, prometera nunca mais proferir o seu nome. “Ah! É verdade James, não ias á casa de banho ou assim?” Disse. “Não, era só uma desculpa para me afastar deles…” fez uma careta “É que estava aborrecido com as piadinhas estupidas deles” Suspiro. “Isso já não é importante” Sorriu. “Ainda bem que me deparei contigo” brincou com a colher do café. “Porque dizes isso?” Beberiquei o meu cappuccino. “Foste a minha salva-vidas! Se não tivesses aparecido teria de ter fingido a minha própria morte!” Exclamou em pose dramática: levara a mão ao peito como que se estivesse esfaqueando. Desmanchei-me em risos. Ele também riu.

O riso dele era tão alegre, vivo e fazia-me sentir tão quente e leve! Os dentes dele brilhavam de uma forma convidativa, que pareciam estar a chamar por mim…
A sério, não querias conhecê-los” ficou sério, fitando-me nos olhos. “Sabes, devíamos encontrar-nos mais vezes! És uma miúda espetacular!” “Ah!” Suspirei, “Quem me dera que todos pensassem dessa forma…” Olhei para as mãos mas sentia os olhos dele procurando os meus. Ele esticou a mão e tocou-me delicadamente no queixo, levantando-o para poder-me olhar novamente nos olhos. “Problemas de coração, hein?” Assenti. “yeah… bem-vinda ao clube!” Ele suspirou … “Bom… O tempo cura tudo, segundo dizem não é?” Olhou para mim esperançoso. “Ye, suponho que sim” “Enfim…” Suspirou.



De repente o meu telemóvel começou a vibrar. Olhei para James espantada. “Quem será que me quer?” Murmurei abrindo a mala à procura do telemóvel. Atendi sem ver quem era: “Sim?” “Olá. Desculpa ultimamente tenho estado ausente porque precisava de tempo para pensar no que quero para o futuro e…” Era ele… O meu coração acelerou, a mão que segurava o telemóvel perdeu a força, corei e as borboletas voltaram á minha barriga. Era tão bom voltar a ouvir a voz dele mas ao mesmo tempo era terrível! “Luce, estás ai?” A voz disse. “Ah… sim estou” “Desculpa!”, “Não faz mal”. Claro que fazia mal… 



Capitulo III

Quem é?” disse James com os lábios (sem fazer som). Fiz-lhe sinal de que depois lhe contaria.
Então como estás?” 

O que ia responder? Ele sabia que eu estava de rastos. Estava completamente destruída! Mas claro que não ia mostrar parte fraca! 
Bem…” a minha voz vacilou, traindo-me. 
A sério?
Sim” repeti mais firme. 

Um silêncio ensurdecedor pairou na chamada… 
Ahm… E tu, como estás?” 
Mais ou menos”. 

Fiquei contente por ouvir aquilo. Era tão bom sentir que eu não era a única que estava a sofrer com esta situação toda. 
Ah…” 

Mais silêncio.
Bem… tenho que desligar agora… liguei só para te dizer isso…” 
Ah, hum, ok então”. 
Gosti” disse. 

Ele dizia sempre isso. Era a sua forma de dizer “Adoro-te”. 
Engoli em seco. Era demasiado doloroso ouvir a voz dele depois de tudo… Depois de tudo o que lhe dissera. 
Hum” murmurei. 
Luce, querida, tenho mesmo de desligar” 

Foi nesta altura que caiu sobre mim o peso da despedida.
Este era o verdadeiro e único momento pela qual ansiara nunca chegar: O Adeus. O meu lábio começou a tremer Oh não! Iria começar a chorar! O telemóvel escorregou uns centímetros da minha mão. Inspirei fundo, preparando-me para o impacto final. 

Então adeus” murmurei 
Adeus
Adeus” repeti desligando a chamada. 

Joguei o telemóvel na mesa com raiva e esforcei-me por não chorar. 
Não sabia… que iria doer…tanto” Consegui dizer entre soluços. 

James aflito mudara de lugar, sentara-se agora ao meu lado. 
O que… como posso te ajudar?

Abanei a cabeça e envolvi o tronco com os braços, mas era inevitável… iria chorar. Uma lágrima caiu e mais outra, seguida de outra e outra. James muito paciente agarrara-me na mão e levara-me dali para fora.



Estávamos agora no parque onde nos conhecemos… 
Não podes ficar assim por causa de um rapaz! É… é... Não vale a pena” disse por fim. Pôs o braço à volta dos meus ombros, puxando-me para mais perto dele. “Se esse miúdo te faz chorar assim é porque não te merece de verdade” piscou o olho. “A partir de agora, tens aqui o James que só te fará chorar mas é de tanto rir!” sorri
Por agora, abraça-me apenas!

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